Este estudo tem vindo a ser alvo de críticas (positivas e negativas).
De estranhar que se descredibilize um estudo sem sequer se ter acesso ao mesmo.
Assim sendo e para que todos os profissionais e interessados neste tema possam analisar e depois sim criticar o referido estudo, decidi com a colaboração dos colegas envolvidos, colocá-lo aqui.
O estudo, como se pode ver,
“tem como principal objecto perceber qual a relação existente entre o accionamento de meios de emergência e a cor atribuída, na altura da chegada do doente ao hospital, durante a Triagem de Manchester”
e não indicar se o utente deve ou não ir ao Hospital.
É bom saber do que se está a falar antes de se tirar conclusões precipitadas e cair no ridículo.
Introdução:
“O accionamento dos meios de transporte de emergência é efectuado mediante chamada 112, após a qual é realizada uma triagem telefónica, para identificar a necessidade de activação de meios. O sistema de Triagem de Manchester é uma medida adoptada pelo Ministério da Saúde no ano de 1997, com o objectivo de reestruturar os Serviços de Urgência (SU).
Deste modo, optou-se por esta temática, cientes que só pesquisando, clarificando, compreendendo e reflectindo sobre a questão do accionamento dos meios e a côr atribuída pela Triagem, se poderá melhorar futuramente na busca da excelência do exercício profissional.”
Métodos:“O trabalho foi efectuado com recurso a registos dos accionamentos utilizando um grupo de três ambulâncias da região do grande Porto. Houve o cuidado de registar apenas os accionamentos que tiveram atribuição de côr, ou, caso contrário, estivesse devidamente justificada a não atribuição da mesma como nos casos de: recusa de transporte, falecimento no local, entre outros.Mesmo não se tratando de uma amostra significativa, a mesma possui um número suficiente de casos registados para se perceber e obter conclusões relativamente à relação que nos propúnhamos estudar.”
Conclusão:
“A partir da análise e discussão dos resultados obtidos pode-se concluir que, para a amostra em questão, as ambulâncias de emergência nem sempre transportam doentes considerados emergentes ou muito urgentes. É visível pelos resultados obtidos, que uma grande percentagem dos accionamentos das ambulâncias não correspondem ao desejado, o que permite também, concluir que poderá ser necessário definir critérios de não transporte ou rever os accionamentos de meios.Por outro lado, os dados obtidos podem também relacionar-se com a confusão/desconhecimento (por parte de quem liga 112), de conceitos entre o Serviço de Atendimento Permanente e o Serviço de Urgência. Esta incompreensão de conceitos pode ocasionar a transformação do SU em unidades de resposta a todo o tipo de "padecimentos" e "problemas",desvirtuando a própria missão do SU e sobrecarregando o mesmo com casos indevidos.”
O estudo está apresentado em gráfico, mas para simplificar foi transcrito para tabela.
O estudo contempla outras análises tais como o volume de saidas por mês, mas não achei que fossse relevante para o caso.
Azul | Verde | Amarelo | Laranja | Vermelho | Preto | Recusas | Não Transporte | Desactivações | Já Transportados | |
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Ac. Viação | 3 | 80 | 24 | 3 | 1 | 30 | 8 | 5 | ||
Agressão | 3 | 48 | 3 | 2 | 21 | 2 | 2 | |||
Atropelamento | 9 | 20 | 11 | 1 | 7 | 1 | ||||
AVC (Provável) | 21 | 34 | 6 | |||||||
Crise Ansiedade (Provável) | 39 | 3 | 54 | 1 | ||||||
Crise Convulsiva (Provável) | 1 | 45 | 20 | 6 | 13 | 3 | 1 | |||
Dispneia | 13 | 135 | 145 | 25 | 2 | 19 | 2 | 3 | ||
Dor Abdominal | 2 | 10 | 85 | 28 | 1 | 8 | 1 | |||
Dor Torácica | 1 | 1 | 68 | 93 | 6 | 5 | ||||
Etilizado (Provável) | 4 | 19 | 48 | 3 | 34 | 2 | 2 | |||
Helitransporte | 5 | 23 | 1 | |||||||
Hipoglicemia | 1 | 6 | 10 | 7 | 9 | 8 | 1 | |||
Outra Doença Súbita | 1 | 20 | 206 | 88 | 7 | 64 | 3 | 4 | 1 | |
Outro Não Especificado | 4 | 67 | 19 | 48 | 1 | 26 | 4 | |||
Outro Grande Trauma | 4 | 10 | 3 | |||||||
Outro Pequeno Trauma | 1 | 10 | 71 | 19 | 16 | |||||
Psiquiatria (Provável) | 6 | 47 | 28 | 2 | 20 | 1 | ||||
Queda | 1 | 25 | 273 | 50 | 7 | 60 | 2 | 4 | 2 | |
Sincope ou Lipotímia | 1 | 9 | 123 | 33 | 4 | 61 | 1 | 2 | 1 | |
PCR | 2 | 7 | 80 | |||||||
TOTAL | 11 | 134 | 1388 | 626 | 110 | 84 | 469 | 25 | 53 | 16 |
Podem assim analisar o estudo e só depois falar sobre "Accionamento de Meios Vs Triagem de Manchester", em vez de criticarem o estudo SEM o lerem, sem saberem realmente de que se fala, baseados numa notícia.
Aqui foi colocada a notícia que dizia:
"Estudo revela que 52% dos transportados pode aguardar uma hora ou mais no hospital"
E as conclusões que algumas pessoas em alguns blogs tiraram foram que os TAE achavam que 52% dos utentes não deviam ir ao Hospital, quando o estudo estabelece a relação SAIDAS / TRIAGEM.
A notícia por sua vez reflecte que os doentes transportados PODEM aguardar uma hora ou mais.
Eu comentei que face a esta resposta:
Em resposta ao JN, a direcção do INEM reiterou que segue uma recomendação da Direcção de Emergência Médica que manda, em caso de dúvida, transportar o doente ao hospital
O CODU tem sempre dúvidas.
Sinceramente não sei onde foram buscar a ideia que os TAE não devem transportar estes doentes ao SU.
Enfim... "NABICES"
Afinal não somos nós que misturamos "alhos com bugalhos".
"E o nabo sou eu???"
10 comentários:
Boa tarde a todos.
Como referi na minha análise a "notícia" poderia estar "moldada" no entanto face ao aqui exposto nada acrescenta ao que disse previamente:
A classificação que atribuem de emergente ou muito urgente baseia-se no protocolo de triagem de Manchester que está longe de ser perfeito mas face às situações actuais e contingências de ordem profissional e económicas é o melhor para ser aplicado actualmente. Com isto quero dizer que muitas situações rigorosamente avaliadas via triagem de Manchester atribuem uma prioridade "incorrecta". Vide caso de convulsões, hipoglicemias, Sintomas neurológicos/focais de novo; dor torácica etc etc... Portanto basearem-se na prioridade da triagem é errado.
Daí a criação de vias verdes e outras triagens secundárias.
Depois é claramente dito na entrevista ao presidente do STAE, Ricardo Rocha, que devemos responsabilizar os utentes com prioridade verde e azul, algo que não é manifestamente correcto.
Depois há algo que não fica explícito... Se o INEM só deve assistir situações muito urgentes ou emergentes ou se também as "urgentes" nesse caso eu pergunto... Para que existem Ambulâncias SBV e não só SIV ou VMER. Neste aspecto admito rever a minha opinião se me mostrarem os critérios da triagem e accionamento de meios do INEM.
Assim sendo perguntaria se valeria a pena existirem ambulâncias SBV uma vez que em caso de emergência deve ir um meio mais diferenciado?
Como é óbvio eu acho que devem existir mas pela ideia que transparece das declarações parece que não.
Como é óbvio, e eu mais do que vocês posso sentir isso... é a quantidade enorme de pessoas que recorre ao SU que poderiam ser atendidas noutro local, SE este local existisse... Não podemos cometer o mesmo erro que foi a requalificação da rede de urgências em que se encerrava um meio sem ter outro preparado. Percebem o que quero dizer com isto?
Em lado algum EU ataquei o facto de estudo ter sido feito por fulano, TAE ou INEM mas simplesmente as conclusões e a metodologia do estudo por isso não me palavras palavras que eu não disse.
Quanto ao facto da notícia não reflectir exactamente o estudo... É um dos males de divulgar este tipo de coisas via comunicação social... Isentos é que eles não são e as marés são ao sabor da Lua.
Por fim quero apenas dizer que o objectivo é garantir a melhor saúde ao maior número de pessoas e tal só se consegue informando e não desinformando.
Quando as posições se extremam normalmente nada de bom surge e passamos o tempo a discutir o não essencial.
É preciso rentabilizar os meios disponíveis? Sim
É preciso adequar a procura aos meios? Sim
É preciso que o sistema funcione da melhor forma e ao mais baixo custo? Sim
É preciso que discutamos sem fulanizar? Sim sim e sim.
"Vide caso de convulsões, hipoglicemias, Sintomas neurológicos/focais de novo; dor torácica etc etc... "
Com toda a certeza estas Hipoglicemias, são as revertidas no local... as convulsões (entrada no SU com esse "fluxograma") muitas vezes são estados pós-crise (o que não quer dizer que não repita a crise), as dores toracicas são "desvalorizadas" pelo próprio enfermeiro na triagem, e pelas equipas, quando é notório o "fingimento" de "clientes habituais".
Claro que para tudo existe exepção.
Mas tak como o magistral disse, que é contra os serviços "taxi", muitas vezes os serviços taxi, entram como verde ou amarelo no SU. E fazem parte dos 5% referidos que devem "ser responsabilizados" pelo transporte.
Carríssimo desconhecedor, caso não saiba, onde existe SBV não existe SIV, e vice versa, logo parte do seu texto não faz de todo sentido (como os anteriores). Seguindo o seu raciocínio, então encaminhem-se as chamadas das centris 112 para a central de taxi e elilinen-se todas as ambulâncias existentes no país...
Em relação às excepções devo recordar uma metáfora da área de Direito: Vale mais libertar um inocente e 9 possíveis culpados do que prender injustamente 1 inocente e 9 culpados.
E como propunham que os utentes fossem responsabilizados? E como garantiam sem dúvida alguma quais os utentes que deveriam ser responsabilizados? Onde ficaria a estratégia de prevenção e alerta de possíveis sintomas de AVC e EAM?
Quanto à desvalorização palavras leva-as o vento. Contam-se pelos dedos das mãos as supostas dores torácicas supostamente fingidas que não fazem ECG por via das dúvidas...
Com isto quero dizer que a "malta" gosta de desvalorizar ao falar mas a actuar não...
E já agora recordo que os doentes mentais e aparentados são os que pior atendimento recebem (qualidade clínica) e isto por causa da desvalorização da saúde mental.
Preparem-se porque o futuro vai ter cada vez mais "destes" utentes.
A fúria hipocondríaca da sociedade actual e a excessiva medicalização a isso levou. Conseguiremos voltar atrás? Deveremos voltar a atrás?
o que se passa com o inem.info?
Sr.magistral;
por todos os posts que escreveu,eu não vi nenhuma novidade vinda de um enfermeiro que faz triagem:
A triagem de Manchester que está longe de ser perfeito é verdade,mas um dos maiores problemas é que a maior parte dos responsáveis por essas triagens (enfermeiros)descuram tudo os que os técnicos dizem sobre as avaliações que se efectuaram ao doente no local e no transporte.
já transportei doente que esteve envolvido num incendio urbano que esteve exposto muito tempo ao fumo e quando cheguei á urgencia com o doente a fazer oxigénio a 15 litros , o enfermeiro colocou o oximetro e disse para tirar o oxigénio porque o doente ´não precisava e passadas algumas horas o doente faleceu.
Andam nisto à dois dias??? Comecem a aprender para bem das vitimas...
Sr anónimo independentemente do que ache os enfermeiros, na sua globalidade, raras excepções que apenas confirmam a regra, ouvem bem o que nos dizem na triagem, terá também de compreender que muitas das coisas não interessam exactamente para fazer triagem nem propriamente para o posterior atendimento.
Mas já por isso os utentes seguem com a folha de registos de actuação no PH. É que triagem significa deifinir prioridade de atendimento e não identificar problemas crónicos e diagnósticos. Já por isso são enfermeiros a fazer e não médicos. Os enfermeiros funcionam melhor com um sistema orientado por sinais e sintomas enquanto que o médico funciona pela recolha de dados exaustivos.
Não sou eu que o digo, são os estudos feitos sobre a triagem de Manchester.
Porém dizia alguém muito sábio, quem não sabe o que dizer diz tudo, pode ser que algo se aproveite
Quanto ao caso que relatou: Como deve compreender a carboxihemoglobina pode induzir sobrevalorização do valor de SpO2 induzindo uma avaliação incorrecta porém... em várias horas na Urgência não houve quem lhe fizesse uma gasomtria?
Parece-me demasiado atribuir culpas ao enfermeiro da triagem... que esteve no máximo 3 min com o utente ao passo que nessas horas seguintes existiram bem mais contactos com outros profissionais de saúde...
De qualquer forma não seria irreversível?
Concordo Com O Magistral Estratega quando fala das urgências vs emergências.....
Os T.A.E à muito que se esqueceram, o então nunca souberam qual a sua verdadeira função.
Está na lei, e faz parte das obrigações do INEM o transporte dos utentes em Emergência e Urgência.
A duvida está claramente no que é uma urgência no pre-hospitalar.
Segundo o Manual do Codu (que ninguem cumpre, pelo menos no Codu Norte)o INEM apenas deve assumir os transportes urgentes e emergentes, os transportes não urgêntes, estão claramente definidos como aqueles que não precisam de assistencia médica ou apenas carecem de uma consulta programada; isto significa que uma simples dor menstrual ( por exemplo) que não seja controlada em casa possa ser considerado uma urgência, e se eu no codu me recusar a enviar ambulancia para esta senhora e se for a tribunal, não tenho safa possivel o manual é claro: esta vitima precisa de ir ao medico e não pode esperar por uma consulta programada que pode demorar meses.
é nesta ultima parte que o INEM deve exclarecer e criar protocolos claros que não criem duvida.
E concordo quando dizem que os TAE se queixam que fazem poucas emergências e muitas "falsas urgências" mas a sociedade é assim. Se o INEM apenas fizesse transportes emergentes os TAE estavam no desemprego, pois apenas seriam precisos 1% dos meios atuais.
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