domingo, 3 de outubro de 2010

Accionamento de Meios Vs Triagem de Manchester

Este estudo tem vindo a ser alvo de críticas (positivas e negativas).
De estranhar que se descredibilize um estudo sem sequer se ter acesso ao mesmo.
Assim sendo e para que todos os profissionais e interessados neste tema possam analisar e depois sim criticar o referido estudo, decidi com a colaboração dos colegas envolvidos, colocá-lo aqui.

O estudo, como se pode ver,
tem como principal objecto perceber qual a relação existente entre o accionamento de meios de emergência e a cor atribuída, na altura da chegada do doente ao hospital, durante a Triagem de Manchester

e não indicar se o utente deve ou não ir ao Hospital.
É bom saber do que se está a falar antes de se tirar conclusões precipitadas e cair no ridículo.
Introdução:
“O accionamento dos meios de transporte de emergência é efectuado mediante chamada 112, após a qual é realizada uma triagem telefónica, para identificar a necessidade de activação de meios. O sistema de Triagem de Manchester é uma medida adoptada pelo Ministério da Saúde no ano de 1997, com o objectivo de reestruturar os Serviços de Urgência (SU).
Deste modo, optou-se por esta temática, cientes que só pesquisando, clarificando, compreendendo e reflectindo sobre a questão do accionamento dos meios e a côr atribuída pela Triagem, se poderá melhorar futuramente na busca da excelência do exercício profissional.”
Métodos:
“O trabalho foi efectuado com recurso a registos dos accionamentos utilizando um grupo de três ambulâncias da região do grande Porto. Houve o cuidado de registar apenas os accionamentos que tiveram atribuição de côr, ou, caso contrário, estivesse devidamente justificada a não atribuição da mesma como nos casos de: recusa de transporte, falecimento no local, entre outros.
Mesmo não se tratando de uma amostra significativa, a mesma possui um número suficiente de casos registados para se perceber e obter conclusões relativamente à relação que nos propúnhamos estudar.”
Conclusão:
“A partir da análise e discussão dos resultados obtidos pode-se concluir que, para a amostra em questão, as ambulâncias de emergência nem sempre transportam doentes considerados emergentes ou muito urgentes. É visível pelos resultados obtidos, que uma grande percentagem dos accionamentos das ambulâncias não correspondem ao desejado, o que permite também, concluir que poderá ser necessário definir critérios de não transporte ou rever os accionamentos de meios.
Por outro lado, os dados obtidos podem também relacionar-se com a confusão/desconhecimento (por parte de quem liga 112), de conceitos entre o Serviço de Atendimento Permanente e o Serviço de Urgência. Esta incompreensão de conceitos pode ocasionar a transformação do SU em unidades de resposta a todo o tipo de "padecimentos" e "problemas",
desvirtuando a própria missão do SU e sobrecarregando o mesmo com casos indevidos.”

O estudo está apresentado em gráfico, mas para simplificar foi transcrito para tabela.
O estudo contempla outras análises tais como o volume de saidas por mês, mas não achei que fossse relevante para o caso.

AzulVerdeAmareloLaranjaVermelhoPretoRecusasNão TransporteDesactivaçõesJá Transportados
Ac. Viação38024313085
Agressão348322122
Atropelamento92011171
AVC (Provável)21346
Crise Ansiedade (Provável)393541
Crise Convulsiva (Provável)1452061331
Dispneia131351452521923
Dor Abdominal2108528181
Dor Torácica11689365
Etilizado (Provável)4194833422
Helitransporte5231
Hipoglicemia16107981
Outra Doença Súbita12020688764341
Outro Não Especificado46719481264
Outro Grande Trauma4103
Outro Pequeno Trauma110711916
Psiquiatria (Provável)647282201
Queda12527350760242
Sincope ou Lipotímia1912333461121
PCR2780
TOTAL11134138862611084469255316

Podem assim analisar o estudo e só depois falar sobre "Accionamento de Meios Vs Triagem de Manchester", em vez de criticarem o estudo SEM o lerem, sem saberem realmente de que se fala, baseados numa notícia.

Aqui foi colocada a notícia que dizia:

"Estudo revela que 52% dos transportados pode aguardar uma hora ou mais no hospital"

E as conclusões que algumas pessoas em alguns blogs tiraram foram que os TAE achavam que 52% dos utentes não deviam ir ao Hospital, quando o estudo estabelece a relação SAIDAS / TRIAGEM.

A notícia por sua vez reflecte que os doentes transportados PODEM aguardar uma hora ou mais.

Eu comentei que face a esta resposta:

Em resposta ao JN, a direcção do INEM reiterou que segue uma recomendação da Direcção de Emergência Médica que manda, em caso de dúvida, transportar o doente ao hospital

O CODU tem sempre dúvidas.

Sinceramente não sei onde foram buscar a ideia que os TAE não devem transportar estes doentes ao SU.
Enfim... "NABICES"

Afinal não somos nós que misturamos "alhos com bugalhos".


"E o nabo sou eu???"

10 comentários:

Unknown disse...

Boa tarde a todos.

Como referi na minha análise a "notícia" poderia estar "moldada" no entanto face ao aqui exposto nada acrescenta ao que disse previamente:

A classificação que atribuem de emergente ou muito urgente baseia-se no protocolo de triagem de Manchester que está longe de ser perfeito mas face às situações actuais e contingências de ordem profissional e económicas é o melhor para ser aplicado actualmente. Com isto quero dizer que muitas situações rigorosamente avaliadas via triagem de Manchester atribuem uma prioridade "incorrecta". Vide caso de convulsões, hipoglicemias, Sintomas neurológicos/focais de novo; dor torácica etc etc... Portanto basearem-se na prioridade da triagem é errado.
Daí a criação de vias verdes e outras triagens secundárias.

Depois é claramente dito na entrevista ao presidente do STAE, Ricardo Rocha, que devemos responsabilizar os utentes com prioridade verde e azul, algo que não é manifestamente correcto.

Depois há algo que não fica explícito... Se o INEM só deve assistir situações muito urgentes ou emergentes ou se também as "urgentes" nesse caso eu pergunto... Para que existem Ambulâncias SBV e não só SIV ou VMER. Neste aspecto admito rever a minha opinião se me mostrarem os critérios da triagem e accionamento de meios do INEM.

Assim sendo perguntaria se valeria a pena existirem ambulâncias SBV uma vez que em caso de emergência deve ir um meio mais diferenciado?
Como é óbvio eu acho que devem existir mas pela ideia que transparece das declarações parece que não.

Como é óbvio, e eu mais do que vocês posso sentir isso... é a quantidade enorme de pessoas que recorre ao SU que poderiam ser atendidas noutro local, SE este local existisse... Não podemos cometer o mesmo erro que foi a requalificação da rede de urgências em que se encerrava um meio sem ter outro preparado. Percebem o que quero dizer com isto?

Unknown disse...

Em lado algum EU ataquei o facto de estudo ter sido feito por fulano, TAE ou INEM mas simplesmente as conclusões e a metodologia do estudo por isso não me palavras palavras que eu não disse.

Quanto ao facto da notícia não reflectir exactamente o estudo... É um dos males de divulgar este tipo de coisas via comunicação social... Isentos é que eles não são e as marés são ao sabor da Lua.

Por fim quero apenas dizer que o objectivo é garantir a melhor saúde ao maior número de pessoas e tal só se consegue informando e não desinformando.

Quando as posições se extremam normalmente nada de bom surge e passamos o tempo a discutir o não essencial.

É preciso rentabilizar os meios disponíveis? Sim

É preciso adequar a procura aos meios? Sim

É preciso que o sistema funcione da melhor forma e ao mais baixo custo? Sim

É preciso que discutamos sem fulanizar? Sim sim e sim.

Unknown disse...

"Vide caso de convulsões, hipoglicemias, Sintomas neurológicos/focais de novo; dor torácica etc etc... "

Com toda a certeza estas Hipoglicemias, são as revertidas no local... as convulsões (entrada no SU com esse "fluxograma") muitas vezes são estados pós-crise (o que não quer dizer que não repita a crise), as dores toracicas são "desvalorizadas" pelo próprio enfermeiro na triagem, e pelas equipas, quando é notório o "fingimento" de "clientes habituais".
Claro que para tudo existe exepção.
Mas tak como o magistral disse, que é contra os serviços "taxi", muitas vezes os serviços taxi, entram como verde ou amarelo no SU. E fazem parte dos 5% referidos que devem "ser responsabilizados" pelo transporte.

eu disse...

Carríssimo desconhecedor, caso não saiba, onde existe SBV não existe SIV, e vice versa, logo parte do seu texto não faz de todo sentido (como os anteriores). Seguindo o seu raciocínio, então encaminhem-se as chamadas das centris 112 para a central de taxi e elilinen-se todas as ambulâncias existentes no país...

Unknown disse...

Em relação às excepções devo recordar uma metáfora da área de Direito: Vale mais libertar um inocente e 9 possíveis culpados do que prender injustamente 1 inocente e 9 culpados.

E como propunham que os utentes fossem responsabilizados? E como garantiam sem dúvida alguma quais os utentes que deveriam ser responsabilizados? Onde ficaria a estratégia de prevenção e alerta de possíveis sintomas de AVC e EAM?
Quanto à desvalorização palavras leva-as o vento. Contam-se pelos dedos das mãos as supostas dores torácicas supostamente fingidas que não fazem ECG por via das dúvidas...

Com isto quero dizer que a "malta" gosta de desvalorizar ao falar mas a actuar não...

E já agora recordo que os doentes mentais e aparentados são os que pior atendimento recebem (qualidade clínica) e isto por causa da desvalorização da saúde mental.

Preparem-se porque o futuro vai ter cada vez mais "destes" utentes.
A fúria hipocondríaca da sociedade actual e a excessiva medicalização a isso levou. Conseguiremos voltar atrás? Deveremos voltar a atrás?

Anónimo disse...

o que se passa com o inem.info?

Anónimo disse...

Sr.magistral;
por todos os posts que escreveu,eu não vi nenhuma novidade vinda de um enfermeiro que faz triagem:
A triagem de Manchester que está longe de ser perfeito é verdade,mas um dos maiores problemas é que a maior parte dos responsáveis por essas triagens (enfermeiros)descuram tudo os que os técnicos dizem sobre as avaliações que se efectuaram ao doente no local e no transporte.

já transportei doente que esteve envolvido num incendio urbano que esteve exposto muito tempo ao fumo e quando cheguei á urgencia com o doente a fazer oxigénio a 15 litros , o enfermeiro colocou o oximetro e disse para tirar o oxigénio porque o doente ´não precisava e passadas algumas horas o doente faleceu.

Anónimo disse...

Andam nisto à dois dias??? Comecem a aprender para bem das vitimas...

Unknown disse...

Sr anónimo independentemente do que ache os enfermeiros, na sua globalidade, raras excepções que apenas confirmam a regra, ouvem bem o que nos dizem na triagem, terá também de compreender que muitas das coisas não interessam exactamente para fazer triagem nem propriamente para o posterior atendimento.
Mas já por isso os utentes seguem com a folha de registos de actuação no PH. É que triagem significa deifinir prioridade de atendimento e não identificar problemas crónicos e diagnósticos. Já por isso são enfermeiros a fazer e não médicos. Os enfermeiros funcionam melhor com um sistema orientado por sinais e sintomas enquanto que o médico funciona pela recolha de dados exaustivos.
Não sou eu que o digo, são os estudos feitos sobre a triagem de Manchester.
Porém dizia alguém muito sábio, quem não sabe o que dizer diz tudo, pode ser que algo se aproveite

Quanto ao caso que relatou: Como deve compreender a carboxihemoglobina pode induzir sobrevalorização do valor de SpO2 induzindo uma avaliação incorrecta porém... em várias horas na Urgência não houve quem lhe fizesse uma gasomtria?
Parece-me demasiado atribuir culpas ao enfermeiro da triagem... que esteve no máximo 3 min com o utente ao passo que nessas horas seguintes existiram bem mais contactos com outros profissionais de saúde...
De qualquer forma não seria irreversível?

Anónimo disse...

Concordo Com O Magistral Estratega quando fala das urgências vs emergências.....

Os T.A.E à muito que se esqueceram, o então nunca souberam qual a sua verdadeira função.

Está na lei, e faz parte das obrigações do INEM o transporte dos utentes em Emergência e Urgência.
A duvida está claramente no que é uma urgência no pre-hospitalar.

Segundo o Manual do Codu (que ninguem cumpre, pelo menos no Codu Norte)o INEM apenas deve assumir os transportes urgentes e emergentes, os transportes não urgêntes, estão claramente definidos como aqueles que não precisam de assistencia médica ou apenas carecem de uma consulta programada; isto significa que uma simples dor menstrual ( por exemplo) que não seja controlada em casa possa ser considerado uma urgência, e se eu no codu me recusar a enviar ambulancia para esta senhora e se for a tribunal, não tenho safa possivel o manual é claro: esta vitima precisa de ir ao medico e não pode esperar por uma consulta programada que pode demorar meses.

é nesta ultima parte que o INEM deve exclarecer e criar protocolos claros que não criem duvida.

E concordo quando dizem que os TAE se queixam que fazem poucas emergências e muitas "falsas urgências" mas a sociedade é assim. Se o INEM apenas fizesse transportes emergentes os TAE estavam no desemprego, pois apenas seriam precisos 1% dos meios atuais.